FURA-OLHO (parte 1)

Existe uma ética masculina de não se mexer com a mulher do próximo. Levada ao extremo, não se mexe com a mulher de quem o amigo está a fim. Tanto que, da primeira vez em que isso aconteceu comigo, esperei o cara me dar o sinal verde. Da outra, eu segurei bem a minha onda, apesar da vontade que eu tive de ficar com ela. O que a gente costumava dizer era que as mulheres vão, mas os amigos ficam. Até que uma vez...

Havia uma garota que havia sido minha caloura na faculdade com quem me reencontrei algum tempo depois de me formar. Eu estava estreando numa banda cover dos Beatles e a convidei para o show. Era um lugar pequeno, mas o formato era acústico e havia um piano – tudo o que eu queria. Nem levei meu teclado.

Terminado o show, ela estava me dando muito mole, mas ficou muito tarde para irmos a outro lugar, já que eu ainda tinha que deixar as minhas coisas em casa. Acabei indo a uma boate com outras duas garotas, mas isso é história para depois.

Poucos meses depois, mandei uma mensagem para o celular dela contando que iria tocar na Beatle Week em Liverpool. Ela responde: "precisamos comemorar". Marcamos para um bar rock'n'roll meio underground em Ipanema, bebemos um pouco e, quando eu menos esperava, ela se levantou e me deu um beijo.

A gente saiu de lá quando a coisa estava começando a esquentar, mas não esquentou o suficiente porque ela passou mal de tanta bebida. Já eu havia bebido pouco, até porque estava dirigindo, e fui bastante paciente.

Quando ia deixá-la em casa, ela me disse: "Você sabe que eu tenho um rolo com o seu amigo, não sabe?" – era tudo de que eu precisava, ainda mais porque eu estava ficando realmente interessado por ela.