DESCANSO?

Quando perdi minha amiga, ouvi muita gente dizer que "ela foi para um lugar melhor". Como bom ateu, me irritava muito ouvir isso. Não precisava de um paliativo para fingir que estava tudo bem, precisava apenas fazer o luto e me acostumar com a perda.

As pessoas têm essa mania de procurar o lado bom nas piores coisas. Todos têm suas certezas, mas no final, morremos de medo porque não sabemos de nada. E quando percebemos isso, percebemos também quão insignificante somos diante de nossa própria existência e quão pouco representamos dentro de um universo virtualmente infinito.

Descansar em paz, aguardar o juízo final, fazer "a viagem" e voltar como um lindo bebê seriam belas opções, se de fato pudéssemos escolher, mas acho pouco provável que a morte seja tão agradável assim. Do contrário, para que teríamos nosso instinto de sobrevivência?

A morte pode ser o fim, um nada eterno, tudo que éramos antes de nascermos, mas essa não me parece a pior das idéias. E se, quando morrermos, ficarmos encerrados em nosso próprio pensamento, incorpóreo, sem nenhum tipo de função sensorial? Seria como se estivéssemos num coma eterno, mas sem corpo para externar a loucura que certamente nos acometeria e que não traria nenhum tipo de conseqüência para outrem.